[Cinema] 15 Grandes Filmes Sobre a Vida na Prisão
- Equipe Memento Cine
- 9 de jul. de 2018
- 13 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2018

A vida na prisão, considerada por muitos como uma das experiências de maior tensão que uma pessoa pode viver, tornou-se uma obsessão cinematográfica, abrangendo diversos gêneros e proporcionando grandes filmes através dos anos. Seja em dramas sobre o cotidiano dos encarcerados, filmes de ação e aventura sobre grandes fugas ou comédias que parodiam as situações comumente associadas a cadeia, esse universo acabou sendo uma fonte de criativas narrativas que exploram de forma sensível diversas características humanas e sociais, potencializadas pela vida em um ambiente pequeno e fechado, onde as pessoas estão privadas de recursos e liberdade. O dito “filme de prisão” acabou por gerar diversos subgêneros, como os filmes de campos de prisioneiros de guerra e campos de concentração (que não serão incluídos na lista apresentada por serem muito numerosos, merecendo listas à parte), os filmes women in prison – exploitations apelativos que exploravam a sexualidade através no contexto prisional – e os numerosos filmes de grandes escapadas. A lista aqui construída pretende mostrar grandes obras cinematográficas do estilo, fazendo um apanhado dos melhores filmes que trabalham a temática em diversos gêneros, organizando-os por ordem de lançamento.
01. Fúria Sanguinária (White Heat, 1949), de Raoul Walsh.

Apesar da ação de Fúria Sanguinária não se passar totalmente dentro do ambiente da prisão, seus melhores momentos estão nas cenas em que acompanhamos o violento Cody Jarrett – interpretado de forma aterrorizante por James Cagney – em seu tempo de cárcere. Raoul Walsh dirigiu esse fantástico filme de gângster com o apoio de Cagney, que preparava um comeback para a Warner, após alguns anos de fracassos em sua própria produtora; o resultado foi essa impressionante obra de tensão, um retrato da sociopatia com muita ação, que prende a atenção do começo ao fim. Jarrett – um sanguinário líder de gangue – assalta um trem dos correios, resultando na morte de quatro pessoas, perseguido pela polícia, ele resolve se entregar à polícia por um crime menor que lhe daria um álibi para o assalto; condenado então a pagar de um a três anos de cadeia na Penitenciaria do Estado de Illinois, mas não sabe que um agente disfarçado foi colocado em sua cela para descobrir seus planos, que envolverão uma surpreendente fuga em uma cena inesquecível. O filme de Walsh é um bom estudo de personalidade criminal, onde podemos analisar as características da mente deturpada do protagonista, como sua falta de empatia e o forte complexo de édipo, inteligentemente desenvolvidos pelo roteiro de Ivan Goff e Ben Roberts e pela atuação exata de Cagney. Uma obra-prima obscura para redescobrir.
02. À Margem da Vida (Caged, 1950), de John Cromwell.

Grande obra cinematográfica pouco comentada, sobre uma jovem viúva que é presa por ajudar seu marido em um assalto, no qual foi morto; é um dos poucos bons filmes sobre um presídio feminino, e um dos primeiros a trabalhar um elenco principal completamente feminino. Eleanor Parker protagoniza, interpretando a jovem Marie Allen, que descobre estar grávida pouco depois de chegar à prisão, onde é obrigada a conviver com diversos tipos de encarceradas, como a perigosa líder Kitty Stark (Betty Garde), a ardilosa Elvira Powell (Lee Patrick), e a aterrorizante e sádica carcereira Evelyn Parker (interpretada pela impactante Hope Emerson), que nutre uma forte atração sexual por Marie. Muito se discute sobre as inspirações lésbicas que o filme carrega, muitos criticam a obra por colocar a figura da homossexualidade relacionada à vilania, algo realmente discutível, principalmente em uma análise atual do tema, porém não podemos ignorar o valor de À Margem da Vida como um impulsionador para a discussão de temáticas tidas polêmicas, dentro do universo cinematográfico, além de ser um belo trabalho para compreender o cotidiano e as atribulações do serviço penitenciário corrupto, e sua influência na vida de uma jovem inocente que tem que viver essa terrível experiência.
03. Um Condenado à Morte Escapou (Un condamné à mort s'est échappé/ A Man Escaped, 1956), de Robert Bresson.

Robert Bresson é um dos maiores nomes do cinema francês, um cineasta essencial que ajudou a pavimentar o caminho para a Nouvelle Vague, sendo uma grande influência para nomes como François Truffaut; Bresson dirigiu clássicos como O Batedor de Carteiras e Mouchette, a Virgem Possuída, onde trabalhou principalmente com não-atores e uma narrativa de inspiração documental. Um Condenado à Morte Escapou é um olhar sobre a ocupação nazista na França durante a II Guerra Mundial, e se passa na prisão Montluc, conhecida por ser usada para prisioneiros políticos pela Gestapo, onde pessoas eram torturadas e mortas, ali conhecemos o protagonista Tenente Fontaine – personagem inspirado em André Devigny, membro da resistência francesa – cujo único enfoque durante da narrativa é escapar do único destino conhecido em Montluc: a morte. Um filme muito duro e, apesar disso muito bonito, Bresson produz o mais verdadeiro relato sobre a necessidade da liberdade, retrata a angústia e opressão sofrida pelo encarcerado, trazendo nisso também, simbolicamente, toda angústia e opressão pela qual a França passava sob o poder dos alemães. Revolucionário, o filme é montado com cenas rápidas, não construindo suspense de forma desrespeitosa dentro de seríssima temática. Uma das maiores obras-primas francesas, de um dos mais sinceros autores da história do cinema.
04. A Um Passo da Liberdade (Le trou/ The Hole, 1960), de Jacques Becker.

Jacques Becker tem em seu filme A Um Passo da Liberdade a mais incomum história de fuga de prisão do cinema. Construído de forma poética, o filme apresenta quatro prisioneiros condenados à longas sentenças obcecados com o desejo de liberdade, que se veem obrigados a incluir um novo prisioneiro (um inocente, condenado erroneamente) em seus planos de construir um túnel, apesar de não confiarem plenamente nele. Especialmente tenso, a obra amplia as sensações do espectador ao não utilizar trilha sonora e ao filmar planos contínuos mais longos do que o usual, transportando para nós a exaustão e o medo dos protagonistas, que batalham tanto com o objetivo em comum, quanto consigo mesmos, questionamentos que muitas vezes não precisam ser colocados em palavras, mas são líricos nas imagens. Esse foi o último filme de Becker – morrendo pouco tempo depois de sua finalização – que permanece pouco conhecido mundialmente, sua obra mais célebre era Amores de Apache, um drama romântico estrelado por Simone Signoret, porém seu derradeiro filme de prisão é hoje reconhecido como uma obra-prima do cinema francês, atraindo maior admiração para o trabalho cinematográfico do autor.
05. O Homem de Alcatraz (Birdman of Alcatraz, 1962), de John Frankenheimer.

Burt Lancaster interpreta o celebre criminoso Robert F. Stroud – famoso por se tornar um grande ornitólogo mesmo cumprindo pena de prisão perpétua – nessa cinebiografia ficcionalizada, dirigida por John Frankenheimer. Stroud, condenado à morte por assassinato, tem sua pena transformada em prisão perpétua em completo isolamento, porém dentro da cadeia passa a cuidar de um pequeno pardal, o que em algum tempo se transformaria em uma enorme coleção de pássaros em gaiolas, com os quais Stroud se tornaria um dos maiores especialistas em aves do mundo, chegando a escrever livros e tornando-se famoso. O filme é uma típica obra hollywoodiana do início dos anos 1960, sua narrativa ainda é tradicional, anterior a revolução cinematográfica da Nova Hollywood, mas carrega tons de um novo tempo em suas formas e diálogos; Burt Lancaster, grande astro do cinema clássico, aparece ainda em boa forma, encarnando bem as características conflitantes de Stroud, como seu carisma e empatia, ladeados de sua rebeldia e estranheza, algo muito criticado na época por pessoas que o conheciam, que afirmavam que o protagonista retratado com bons olhos, era muito mais vil do que se tinha conhecimento. Este é um pequeno filme, simples e agradável, que traz para o espectador uma história de redenção e redescoberta atrás das grades (sendo ela verídica ou não), que nos mostra outro lado do encarceramento. O verdadeiro Robert F. Stroud viveu mais um ano após o lançamento do filme, mas não teve permissão para assistir O Homem de Alcatraz.
06. Rebeldia Indomável (Cool Hand Luke, 1967), de Stuart Rosenberg.

Paul Newman interpreta aqui Luke, um preso não-conformista que se recusa a se submeter aos trabalhos forçados que lhe são incumbidos, causando problemas para seus colegas encarcerados. Rebeldia Indomável é um clássico dirigido por Stuart Rosenberg – que mais tarde dirigiria mais um importante filme de prisão: Brubaker, de 1980, com Robert Redford – que implica em sua narrativa algo a mais do que a simples clássica história de fuga, o protagonista Luke participa sim de diversas tentativas de fuga, porém a mais fantástica característica de seu personagem é a negação ao sistema, a impossibilidade de aceitar o que lhe é imposto. O filme foi um sucesso de bilheteria e foi indicado a quatro Oscars, ganhando o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para o lendário George Kennedy, que interpreta o líder dos prisioneiros Dragline, que inicialmente antagoniza o rebelde Luke, mas que é cativado por ele e tornam-se amigos. A obra de Rosenberg tem como um de suas mais interessantes temáticas as referências religiosas que permeiam a narrativa, muitas cenas e diálogos nos levam ao “Evangelho Segundo Lucas”, além do protagonista muitas vezes se dirigir à deus, como forma de desafio ou evocação, criando cenas belas e instigantes durante o filme. Um clássico que atualmente é pouco lembrado.
07. Papillon (Idem, 1973), de Franklin J. Schaffner.

Dalton Trumbo escreveu o roteiro dessa obra emocionante, baseada no livro de Henri Charrière – uma “improvável” e muito contestável biografia – dirigido por Franklin J. Schaffner e estrelado por Steve McQueen e Dustin Hoffman. Um dos mais célebres e angustiantes filmes de prisão já feitos, Papillon nos mostra os anos que Charrière, um criminoso francês, teria passado preso na Ilha do Diabo, famosa colônia penal francesa, na Guiana Francesa. Apelidado de “Papillon” por sua tatuagem de borboleta, o autor (McQueen) conhece o falsificador Louis Degas (Hoffman), com quem desenvolve um forte laço de confiança e amizade, enquanto passam por terríveis experiências, entre elas trabalho forçado, doenças tropicais, abuso físico e psicológico, tortura e encarceramento em solitárias por enormes períodos de tempo. A mistura de emoções que o filme de Schffner dá ao público faz dele um dos mais inesquecíveis sobre o tema, usando ora de grande intensidade dramática e ora de ação enérgica, o roteiro ainda nos traz momentos de humor suave e uma variação constante de esperança e desesperança guiadas pela melhor interpretação da carreira de McQueen. Papillon é uma experiência da qual não se sai ileso, a poética da narrativa constrói emoções e as desmorona em seguida, construindo uma obra cinematográfica impactante, que por muitos momentos chega a superar os sentimentos que o livro que lhe deu origem transmite. Imperdível.
08. O Expresso da Meia-Noite (Midnight Express, 1978), de Alan Parker.

A adaptação da história real de Billy Hayes, trouxe a Alan Parker a obra que talvez seja o melhor filme de prisão da história do cinema. Parker – um cineasta fantástico e infelizmente pouco apreciado – nos conta a infeliz desventura de Hayes (interpretado pelo ótimo Brad Davis) que após tentar deixar a Turquia com drogas, é preso e jogado em uma violenta e anárquica casa de detenção, e iniciando uma quase impossível luta judicial para recobrar a liberdade e voltar aos EUA. O filme foi roteirizado por Oliver Stone, que adapta o livro de forma inspirada – mesmo que não tão fiel – a montagem é elegante e cheia de ritmo e a trilha sonora premiada de Giorgio Moroder é fantástica e envolvente; porém há também um elemento prejudicial na obra, a forma como os turcos são retratados é tida como ofensiva. O Expresso da Meia-Noite demonstra cada um dos elementos comuns em narrativas sobre a vida na prisão, vemos ali a violência e as torturas, a falta de condições para uma vida saudável, a tensão com os carcereiros, a criação de laços entre os prisioneiros, o afloramento de relações homossexuais, a solidão, o desespero, tanto a esperança quanto a desesperança, e, logicamente, uma fuga. O filme de Parker é intenso, melancólico e poético, repleto de personagens que nos inspiram sentimentos diversos; somos consumidos pela mesma angústia que Billy Hayes e jamais nos esquecemos da experiência.
09. Alcatraz – Fuga Impossível (Escape from Alcatraz, 1979), de Don Siegel.

Alcatraz – Fuga Impossível é um dos mais divertidos filmes de fuga de prisão já produzidos. O diretor Don Siegel, um dos mais prolíficos cineastas americanos dos anos 1950 a 1970, adapta a história real da famosa fuga de Frank Morris e dos irmãos Anglin, conhecidos como os únicos encarcerados a conseguir fugir da famosa prisão de Alcatraz. Estrelado por Clint Eastwood – ator preferido de Siegel – o filme carrega tudo que um envolvente filme de fuga deve ter, como a angústia do encarceramento, prisioneiros ameaçadores, carcereiros opressores e um desejo infindável por liberdade; Morris era conhecido por ser um criminoso extremamente inteligente, e nessa dramatização dos misteriosos acontecimentos que resultaram em fuga, acompanhamos sua mente inventiva construir o passo a passo de um plano aparentemente impossível, que pouco a pouco vai acontecendo frente aos nossos olhos, nos entretendo com um suspense incessante, mesmo que simples. A obra de Don Siegel é ótimo entretenimento e diversão.
10. O Beijo da Mulher-Aranha (Kiss of the Spider Woman, 1985), de Hector Babenco.

O mais brasileiro dos cineastas argentinos, Hector Babenco alcançou sucesso internacional com essa obra-prima. O Beijo da Mulher-Aranha é um filme falado em inglês, mas não poderia ser mais sul-americano; em uma ditadura militar, William Hurt (que ganhou um Oscar por esta interpretação) interpreta Molina – um prisioneiro homossexual – que divide cela com o personagem de Raúl Júlia, Valentin, preso político que sofre constantes torturas e interrogatórios. A obra de Babenco é um filme de diálogos – baseado no livro de Manuel Puig – é o encontro desses dois encarcerados e suas visões de mundo, Molina conta filmes para distrair Valentin, que cautelosamente lhe revela momentos de seu passado. Nessas histórias que acompanhamos, todas as mulheres de grande importância são incarnadas por Sônia Braga, que as interpreta com suavidade hipnótica, nesse filme que a transformou em uma estrela internacional. O filme também é estrelado por grandes atores nacionais em papeis coadjuvantes: Milton Gonçalves, José Lewgoy, Fernando Torres, Herson Capri, Nuno Leal Maia, Miguel Falabella e Denise Dumont, além de belas cenas filmadas em paisagens da cidade de São Paulo. Um filme fantástico, dolorido, político e extremamente poético.
11. Daunbailó (Down by Law, 1986), de Jim Jarmusch.

Jim Jarmusch é um dos mais importantes e revolucionários cineastas independentes do cinema americano, seu fantástico Estranhos no Paraíso o levou ao sucesso em festivais como Cannes e Sundance, e o filme que lançou a seguir foi o incomum e cativante Daunbailó, sobre três inusitados companheiros de cela. Sob uma direção de fotografia em preto e branco melancólica, acompanhamos a história estranha e tragicômica do cafetão Jack e do disc jokey Zack (interpretados respectivamente pelos músicos John Lurie e Tom Waits) – presos por crimes que não cometeram – que se encontram trancados em uma pequena cela com um turista italiano acusado de assassinato chamado Bob (Roberto Benigni); ele compreende pouquíssimo inglês, mas fala incessantemente, divertindo e também incomodando seus colegas de cela e a nós, o público. Logo Jack e Zack entram em conflito, algo que causa problemas que se tornarão ainda maiores, já que Bob planeja uma fuga. O filme se passa em Nova Orleans e captura com elegância e poesia o visual e a essência da cidade e do estado da Louisiana, trazendo um chame boêmio à narrativa, mesmo quando estamos fechados com os personagens em seu confinamento. Como na grande maioria das obras de Jarmusch, existe um belo casamento de melancolia e estranhamento, que acabam por gerar obras únicas, sensíveis e engraçadas, uma experiência cinematográfica inesquecível.
12. Em Nome do Pai (In the Name of the Father, 1993), de Jim Sheridan.

Os anos 70 na Irlanda do Norte foram marcados pela violência. O país se encontrava em meio a uma guerra civil, com o Exército Republicano Irlandês (IRA) em constante atrito com as tropas britânicas. Dentro desse contexto encontra-se Gerry Conlon, um ladrão de Belfast que busca exílio em Londres após se desentender com o IRA. Depois de um atentado a um pub londrino, ele e mais quatro pessoas são acusadas pelo crime. Outro grupo de irlandeses é acusado de participação e, entre eles, está o pai de Gerry, Giuseppe Conlon. Em Nome do Pai, baseado em uma história real, trabalha todo o processo de adaptação dos personagens ao meio carcerário e sua busca pela obtenção de provas de suas inocências, mas o que realmente encanta no filme é o desenvolvimento da relação de pai e filho. Gerry, interpretado por Daniel Day-Lewis e Giuseppe, interpretado por Pete Postlethwaite, possuem um relacionamento bastante conflituoso, tomado pela intermitente frustração que Gerry tem pela fraqueza do pai, que sempre foi um indivíduo com a saúde debilitada. Com constante convívio na prisão, onde ambos estão sempre dividindo a mesma cela, é notável o amadurecimento pessoal de cada um e a evolução da relação de pai e filho. Com apenas 11 anos de diferença entres os atores, Daniel Day-Lewis e Pete Postlethwaite retratam seus personagens com sensibilidade e emoção, trazendo empatia para sua causa. Menção honrosa para a sempre excelente Emma Thompson, interpretando a advogada Gareth Peirce, que corre atrás de evidências para provar a inocência desse grupo e põe à tona a corrupção dentro do departamento policial inglês. O diretor Jim Sheridan traz uma narrativa objetiva e sensível, honrando uma história que durou mais de 15 anos.
13. Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994), de Frank Darabont.

Na frente de filmes como O Poderoso Chefão e 12 Homens e Uma Sentença, Um Sonho de Liberdade permanece há anos na liderança como o melhor filme avaliado no site IMDb. Após assistir ao filme, não é muito difícil de entender o porquê de ele estar tão presente no gosto dos usuários. A obra retrata, de forma primorosa, ideais que a nação norte-americana diz almejar: valor, resistência, justiça e perseverança. Um banqueiro, ao ser preso injustamente pelo assassinato de sua esposa, é levado ao presídio de Shawshank e lá se demonstra uma pessoa virtuosa, ganhando a confiança dos demais detentos, dos guardas e do próprio diretor da penitenciária. Andy Dufresne – interpretado por Tim Robbins – através de toda sua instrução, adquire influência dentro do presídio e, a partir disso, consegue viabilizar a ampliação da biblioteca do local, melhorando a qualidade de vida dos encarcerados. Uma das características que mais chama atenção é o filme não se ater muito à questão da inocência ou culpabilidade do protagonista, mas na sua evolução pessoal dentro do presídio e das relações construídas por ele e ao redor dele durante o tempo que permaneceu encarcerado. Destaca-se sua amizade com Red, interpretado por Morgan Freeman, que apresenta bastante o seu ponto de vista da relação que teve com Andy. Adaptado da obra de Stephen King, “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”, o filme foi indicado a sete prêmios da Academia.
14. Carandiru (2003), de Hector Babenco.

Talvez seja um dos filmes mais honestos e brutais dessa lista. Baseado no livro “Estação Carandiru” do médico Drauzio Varella sobre sua experiência no presídio paulistano Carandiru no final dos anos 80; o filme de Hector Babenco vai além de simplesmente retratar um dos maiores massacres do sistema carcerário brasileiro que matou 111 detentos. É um filme de personagens. A obra navega pelo ponto de vista do médico, interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos, que através de um programa de prevenção à AIDS em presídios, chega ao Carandiru e é levado pelas histórias das pessoas que ele conheceu durante sua experiência no local. Através dessas histórias, conhecemos mais das motivações de cada personagem e de suas jornadas. Adquire-se um balanço perfeito, conseguindo sair da superficialidade, mas sem se aprofundar demais, afinal é um ambiente com várias figuras complexas e particulares e conseguir entender todas elas é bastante enriquecedor e essencial para a narrativa. Lady Di, Zico, Majestade, Ezequiel, Chico, Deusdete, Sem Chance, Negro Preto, Peixeira são apenas alguns dos tantos personagens conhecemos ao decorrer da história, cada um acrescentando algo diferente ao longa-metragem. Carandiru tem um elenco bastante estrelado contando com a presença de Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Milton Gonçalves, Ailton Graça, Caio Blat, Milhem Cortaz, Ivan de Almeida, Gero Camilo, entre outros. Uma obra essencial do cinema brasileiro e mundial.
15. Bronson (Idem, 2008), de Nicolas Winding Refn.

Tom Hardy tem talvez sua mais fantástica atuação nesse filme baseado em fatos reais, a cinebiografia de Michael Gordon Peterson – apelidado Charles Bronson – conhecido como o mais violento prisioneiro da Grã-Bretanha. Bronson é dirigido pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn, conhecido pelo ótimo thriller Drive, com Ryan Gosling; o cineasta é um dos novos autores do cinema contemporâneo, com caracterizações fortes, traços únicos de incomunicabilidade e tramas que envolvem a violência e a depressão de forma crua e sincera. Sucesso no festival de Sundance e nas premiações britânicas, o filme nos apresenta Peterson, preso por um simples roubo, tem sua sentença de sete meses aumentada para três décadas na solitária devido ao seu comportamento violento, no confinamento sua própria personalidade parece desaparecer enquanto um novo alter-ego toma conta: uma versão psicótica do ator Charles Bronson. Bronson é um conto dos terrores vividos pelo protagonista em seu confinamento, assim como lembranças dos crimes que cometeu antes do encarceramento, é uma história exaustiva e dolorida, porém hipnotizante, com uma interpretação fascinante de Hardy. Um trabalho extraordinário de um autor em formação.
Comments