[Cinema] Os 20 Melhores Filmes para Compreender o Documentário
- Equipe Memento Cine
- 8 de mar. de 2018
- 9 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2018
O documentário é o cinema da verdade; ou pelo menos era a ideia original desse gênero cinematográfico. Criado para fins educativos, eram filmes de não-ficção que exploravam a realidade, porém com a evolução do cinema também cresceu em temática e estilo: nasceram as obras poéticas, observacionais, os filmes de propaganda, as docuficções e os falsos documentários (mockumentaries). O gênero é essencial para a compreensão do cinema quanto teoria e é a mais política forma fílmica, onde a voz do autor pode se manifestar com clareza através de todos os recursos do filme. A lista está em ordem de lançamento.
01. Nanook do Norte (Nanook of the North, 1922), de Robert J. Flaherty.

Flaherty é o pai do documentário e pavimentou o que agora entendemos como um filme de não ficção. Nanook do Norte foi seu primeiro filme e um dos primeiros registros da vida e do cotidiano do povo inuíte (esquimós); o filme foi feito reconstruindo atividades que o diretor presenciou depois de passar algum tempo entre os retratados, sendo assim carrega certos elementos do que hoje chamamos de docuficção. Nanook do Norte é também um filme etnográfico, retratando antropologicamente a cultura de um povo isolado, para conhecimento de um grande público.
02. Um Homem com uma Câmera (Chelovek s kino-apparatom/ Man with a Movie Camera, 1929), de Dziga Vertov.

Dziga Vertov foi um dos maiores gênios do cinema soviético e Um Homem com uma Câmera é sua obra-prima, um dos melhores filmes da história do cinema. Talvez o maior exemplo das “sinfonias urbanas”: filmes observacionais que retratam através do olhar de uma câmera a realidade de uma cidade. Nessa obra, Vertov retratou Kiev, Kharkov, Moscou e Odessa, construindo uma epifania de imagens que traduzem o ambiente urbano em imagens de beleza exata.
03. Olympia (Idem, 1938), de Leni Riefenstahl.

A grande obra-prima Olympia – um ensaio sobre a beleza do esporte – foi criado pela atriz e cineasta Leni Riefenstahl, principal propagandista cinematográfica do nazismo. Diretora brilhante, produzia seus filmes de forma grandiosa, usando múltiplas câmeras e sendo capaz de transformar tudo em espetáculo. Riefenstahl filmou as Olimpíadas de 1936, em Berlim com inspiração nas representações gregas da antiguidade, às vezes utilizando de cenas ousadas de nudez; tendo vivido até os 101, Leni se tornou fotógrafa e viajou pelo mundo, registrando povos africanos e o fundo do mar.
04. Noite e Neblina (Nuit et brouillard/ Night and Fog, 1956), de Alain Resnais.

Um dos primeiros documentários sobre os horrores do holocausto, Noite e Neblina mostra sem filtros fotos e filmagens dos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Majdanek. Pilhas de corpos e câmaras de gás aparecem de forma clara, aterrorizando o espectador e o educando a força sobre a história da ideologia nazista e os enormes males que trouxeram para o mundo. Alain Resnais – nome essencial do cinema francês e da Nouvelle Vague – casou o horror e o poético, produzindo um documentário brilhante.
05. Eu, um Negro (Moi, un noir/ I, a Negro, 1958), de Jean Rouch.

Teórico do “cinema direto” (retrato cinematográfico da realidade “tal qual ela é”) e mestre do “cinéma vérité” (onde o cineasta participa da realidade na frente da câmera), Jean Rouch era mais do que um cineasta; antropólogo de formação, utilizou o cinema como estudo etnográfico. Eu, um Negro mostra imigrantes nigerianos na Costa do Marfim, utilizando pseudônimos escolhidos por eles próprios, e os acompanhando em uma semana de sua realidade. É um estudo sobre a imigração e as dificuldades da vida no continente africano, um filme indispensável. Rouch também dirigiu o fantástico Crônica de um Verão.
06. Titicut Follies (Idem, 1967), de Frederick Wiseman.

O grande documentarista Frederick Wiseman mergulhou na realidade de um hospital para criminosos insanos, criando esse registro pungente e incômodo do cotidiano dos pacientes. Titicut Follies nos revela os horrores do tratamento recebido pelos internos, vivendo em condições desumanas, sofrendo violências dos funcionários, sendo algumas das cenas mais impressionantes as que retratam os pacientes sendo alimentados a força ou despidos violentamente. O filme sofreu censura e Wiseman lidou com problemas judiciais por vários anos depois de seu lançamento.
07. Woodstock - 3 Dias de Paz, Amor e Música (Woodstock, 1970), de Michael Wadleigh.

Talvez o maior dos documentários musicais, Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor e Música foi um marco da contracultura. Acompanhando os três dias do famoso Festival de Woodstock, Michael Wadleigh mostrou o cotidiano dos hippies, a relação difícil com os tradicionais moradores da cidade e as participações históricas dos artistas que se apresentaram ali, entre eles: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Joan Baez, The Who, Jefferson Airplane, Santana, Joe Cocker e Crosby, Stills & Nash. O documentário é cativante, divertido e ainda funciona como um bom registro de uma era inesquecível.
08. Verdades e Mentiras (F for Fake, 1973), de Orson Welles.

Orson Welles criou uma hipnotizante docuficção com Verdades e Mentiras, contando – de forma dramática e espetaculosa – a história de um pintor falsário. Vemos aqui uma mistura de fatos e invenções, e Welles não economiza em nos deixar com o benefício da dúvida durante todo o tempo, até que, em determinado momento, ele nos conta a verdade. Verdades e Mentiras pode ser considerado uma grande influência para os mockumentaries (falsos documentários) e é muito mais do que um retrato documental, é uma obra de arte.
09. Grey Gardens (Idem, 1975), de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer.

Os grandes documentaristas Albert e David Maysles produziram o mais cult dos documentários. Grey Gardens - um grande exemplo do “cinema direto” – mostra o cotidiano da tia e da prima de Jacqueline Kennedy, ambas chamadas Edith Beale (“Big Edie” e “Little Edie”). As duas excêntricas aristocratas viviam isoladas em uma mansão em estado de abandono, suja, danificada e cheia de gatos e guaxinins; através da participação dos diretores, as retratadas contam a história de suas vidas. “Big Edie”, já muito idosa, depende da instável “Little Edie” que briga, ama, filosofa, grita e se deprime o tempo todo. O filme dos Irmãos Maysles se tornou uma obsessão para os fãs, é imperdível.
10. Koyaanisqatsi - Uma Vida Fora de Equilíbrio (Koyaanisqatsi, 1982), de Godfrey Reggio.

Koyaaniqatsi é mais que um documentário, é um ensaio cinematográfico, um poema. Sem nenhuma narrativa, o filme é uma sucessão de imagens urbanas e paisagens naturais, construindo um diálogo imagético sobre a relação humana/natureza. Reggio constrói essa hipnótica obra com o auxílio da fotografia de Ron Fricke e a música de Philip Glass, que carrega quem assiste através de sensações e sentimentos. É o primeiro de uma trilogia, seguido por Powaqqatsi e Naqoyqatsi, que juntos adquiriram status cult.
11. Sem Sol (Sans Soleil, 1983), de Chris Marker.

Chris Marker é internacionalmente conhecido por seu clássico de ficção científica La Jetée, construído brilhantemente através apenas de diálogos e fotografias, porém é também um dos mais importantes documentaristas e ensaístas cinematográficos da história do cinema. Sem Sol já foi considerado por críticos o melhor documentário já feito, e é uma obra-prima do cinema observacional, um grande ensaio sobre a memória humana filmado majoritariamente no Japão e em Guiné-Bissau, em busca de diferentes polos humanos. Marker já declarou que para ele essa obra não é nada mais do que um filme caseiro, para nós é perfeição.
12. Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.

O maior documentarista do cinema brasileiro, Eduardo Coutinho, fazia um filme sobre a vida e o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, quando estourou o golpe militar de 1964, grande parte da equipe foi presa por “comunismo” e as filmagens foram interrompidas. 17 anos depois o filme foi retomado, Coutinho foi ao encontro de Elizabeth Altino Teixeira (a viúva de João) para contar sua história, a vida na clandestinidade e a separação de seus filhos. Cabra Marcado para Morrer é um marco do cinema nacional, um retrato dos efeitos da ditadura militar, da mudança dos tempos e da própria produção cinematográfica.
13. Shoah (Idem, 1985), de Claude Lanzmann.

O documentário definitivo sobre o holocausto, Shoah, de Claude Lanzmann, tem cerca de nove horas de duração e foi produzido no decurso de 11 anos. Chocante e sincero, Lanzmann não poupou esforços para construir a mais verídica obra fílmica sobre o tema; entrevistando sobreviventes e testemunhas assim como envolvidos e responsáveis pela matança de tantos judeus, dentre outros tipos de prisioneiros do regime nazista. Corajoso, o diretor filmou e gravou pessoas sem autorização, escondido, tudo em busca do retrato mais verdadeiro da realidade dos campos de concentração. Um dos melhores documentários da história.
14. Uma História do Vento (Une histoire de vent/A Tale of the Wind, 1988), de Joris Ivens e Marceline Loridan.

O cinema observacional de Joris Ivens é o mais belo e poético dentre os documentários. O documentarista holandês é celebre por diversos curtas experimentais que estudam movimentos, imagens e a abstração; dentre seus mais célebres curtas estão A Ponte, de 1928, e Chuva, de 1929, ambos construindo através da imagem poemas visuais cheios de melancolia. Uma História do Vento foi seu último filme, um ano antes de sua morte, Ivens lançou essa obra lírica filmada na China, que retrata nada mais do que o vento, enquanto dialoga sobre sua vida e carreira. Uma despedida linda para um artista inigualável.
15. Close-Up (Nema-ye Nazdik/ Close-Up, 1990), de Abbas Kiarostami.

O gênio iraniano Abbas Kiarostami dirigiu Close-Up, uma docuficção impressionante, que reencena acontecimentos reais, com os envolvidos retratando a si mesmos. Hossain Sabzian passou por processos judiciais por se passar pelo famoso cineasta Mohsen Makhmalbaf, enganando uma família, prometendo que eles participariam de seu próximo filme; a partir daí Kiarostami refaz toda a história, criando uma envolvente dramatização que culmina com o encontro de Sabzian com o verdadeiro Makhmalbaf, em seu julgamento. O cinema iraniano é múltiplo em obras-primas, e Kiarostami tem aqui uma de suas maiores.
16. Francis Ford Coppola - O Apocalipse de Um Cineasta (Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse, 1991), de Fax Bahr, George Hickenlooper e Eleanor Coppola.

O melhor documentário já feito sobre a feitura de um filme. O Apocalipse de Um Cineasta é composto de filmagens behind the scenes da produção do clássico Apocalypse Now, de Francis Ford Copppola, e acompanha momentos críticos da filmagem, de problemas de saúde dos atores até atrasos da produção e aumento de custos. Dirigido e narrado por Eleanor Coppola, esposa de Francis, o filme assume um tom pessoal, aliando percepções pessoais com o registro dos fatos ocorridos, o retrato do cineasta construindo sua obra. O filme é capaz de engrandecer ainda mais o apreço e o encantamento do público frente a obra-prima de Francis Ford Coppola, pois sua produção parece tão espiritual e hipnotizante quanto sua narrativa.
17. Basquete Blues (Hoop Dreams, 1994), de Steve James.

A história de dois colegiais afro-americanos que sonham em se tornar jogadores de basquete profissionais, trouxe ao mundo um dos mais cultuados documentários do cinema contemporâneo. As filmagens de Basquete Blues duraram cinco anos para ser finalizadas e foi tido pelos críticos da época como um dos melhores retratos da cultura americana na história do cinema; é uma obra sincera e que reproduz a realidade de muitos jovens de classe baixa em busca de um futuro melhor. Um gigantesco sucesso de público e crítica, causou celeuma ao não ser indicado ao Oscar de Melhor Documentário (apesar de indicado ao Oscar de Melhor Edição), acabando por causar a mudança da forma de avaliação da academia nessa categoria.
18. Na Captura dos Friedmans (Capturing the Friedmans, 2003), de Andrew Jarecki.

A história da família Friedman é uma das mais intrigantes e confusas já discutidas em um documentário. Arnold Friedman, o patriarca de uma tradicional família judia americana, tem descobertas evidências de compra e venda de material pornográfico infantil, virando a vida de sua família de cabeça para baixo. Arnold e seu filho Jesse davam aulas de informática em casa, e a partir daí dezenas de acusações começaram a surgir dos pais de seus alunos; o mais interessante a ser discutido no filme é se os abusos sexuais realmente aconteceram, ou foram criados a partir da histeria dos pais ao verem seus filhos expostos a alguém acusado da posse de material pornográfico proibido, e também, se o envolvimento de Jesse não seria uma injustiça. Uma obra que nos faz pensar, duvidar do que estamos pensando e reavaliar o quão complexo um acontecimento pode se tornar. Na Captura dos Friedmans é essencial.
19. As Praias de Agnès (Les plages d'Agnès/ The Beaches of Agnès, 2008), de Agnès Varda.

Talvez o maior nome feminino dentro do cinema mundial, Agnès Varda foi essencial para o célebre movimento da Nouvelle Vague Francesa, mas sua contribuição para a história da sétima arte vai muito além disso; documentarista genial, sempre mostra uma elegante forma de dialogar sua visão pessoal, sua vida, com o tema retratado. Seu documentário mais fantástico talvez seja Os Catadores e Eu, sobre a vida dos respigadores franceses nos tempos atuais, porém As Praias de Agnès é seu registro mais encantador sobre si mesma, onde revê e repensa sua própria história através de fotografias, filmagens e entrevistas. Filme lindo narrado pela própria cineasta, com seu jeito apaixonante e carismático.
20. A Caverna dos Sonhos Esquecidos (Cave of Forgotten Dreams, 2010), de Werner Herzog.

Poucos cineastas se dedicaram tanto à ficção quanto ao documentário quanto Werner Herzog, nome essencial do Novo Cinema Alemão, que trouxe ao mundo filmes icônicos como Aguirre, a Cólera dos Deuses e Fitzcarraldo (este boa parte filmado no Brasil, com participações de José Lewgoy, Milton Nascimento e Grande Othelo). A Caverna dos Sonhos Esquecidos, um dos seus mais recentes documentários, filmado em 3D, é um ensaio sobre as pinturas rupestres da Caverna de Chauvet – as mais antigas já registradas – e constrói um retrato poético e lúdico que nos conecta diretamente com os humanos que produziram aquelas imagens, tantos milhares de anos atrás. O filme é uma aula de história, de filosofia e de arte, belíssimo.
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